Super Bock Super Rock: A velha raposa Sting deu show na Meo Arena...
Alinhamento forte em êxitos e uma boa forma musical impressionante fizeram de Sting um dos grandes vencedores desta primeira noite de Super Bock Super Rock.
É notável que, depois de décadas a cantar os mesmos êxitos, com o seu velhinho baixo Precision, Sting conserve o sorriso. Enquanto corremos para a Meo Arena, de blusa encharcada por um choque frontal com dois portadores de cerveja, já ouvimos a voz imperial do sexagenário, que no interior da grande sala vimos a descobrir barbudo e bronzeado.
O último disco de Sting, The Last Ship , até pode ter por tema a ruína da indústria naval de uma pequena cidade inglesa como aquela em que cresceu, mas ao vivo o que o ex-Police faz é apresentar, sem falhas evidentes, uma coleção de êxitos - esses êxitos que, conforme disse em entrevista ao Expresso, não lhe faltam.
A entrega de Sting, que praticamente encheu a Meo Arena, vai porém além da mera competência profissional. Há em muitas das canções - quer na prestação vocal, quer nos arranjos dos instrumentos - uma vitalidade pop/rock que, combinada com a energia de um frontman que parece ter acabado de acordar, se torna contagiante.
Podíamos pensar que ter Sting como cabeça de cartaz de um festival rock poderia apelar a um público mais velho, ou representar uma aposta mais confortável, mas o bom' velho' Gordon Sumner mostrou ter todos os truques para manter bem acordada a plateia nesta noite de quinta.
Acompanhado por uma banda de virtuosos - e todos, do baterista ao jovem violinista, passando pelo pianista e pelo guitarrista, tiveram oportunidade de brilhar nos seus solos - Sting conduziu com mão de ferro mas pé de dançarino o espetáculo. Quase sem pausas entre canções, ouvimos "If I Ever Lose My Faith in You", "Every Little Thing She Does Is Magic", "Englishman in New York", "So Lonely", "When The World Is Running Running Down, You Make The Best of What's Around", "Heavy Cloud No Rain", "Walking on the Moon" ou "Message in a Bottle".
Cansados? Sting claramente não estava, mantendo o público do seu lado, por vezes em franco delírio, até ao final do concerto, o que explica ter sido chamado para dois encores: no primeiro, impressionou com a agilidade vocal em "Desert Rose", o seu êxito crossover de 1999, que à semelhança do concerto no Cool Jazz há alguns anos terminou em verdadeira festa cigana, e "Every Breath You Take", durante a qual um casal ardentemente apaixonado foi "flagrado" pelo jogo de luzes, no topo das bancadas, divertindo o público. No segundo, Sting trocou o baixo por uma guitarra para, a sós com a bateria, se despedir com o belo travo a melancolia de "Fragile".
Na entrevista ao Expresso, o homem de "Roxanne" (que também passou por este alinhamento, mesclada com "Ain't No Sunshine", de Bill Withers) deu-nos um sinónimo de sucesso: ser reconhecível. "Se gostas ou não da minha voz é uma coisa. Mas ouvi-la na rádio e reconhecê-la é importante. Ter uma marca própria, como uma impressão digital única". E, desde o momento em que entrámos na Meo Arena, ao som de "If I Ever Lose My Faith in You", até à despedida da sala, com pais e filhos (adultos) aos abraços de satisfação, nunca nos esquecemos do mais importante: foi Sting quem esteve em palco.
(c) Blitz by Lia Pereira